Ouve lá, ó minha besta!
Porque não aproveitas a vida que te resta
E procuras esse improvável lugar
Onde ainda exista alguém que te queira aturar?
Aproveita e, quando lá chegares, faz as contas!
A sério! Que tal enfrentares o que desmontas?
Conta os dias todos que viveste e que nem sequer mereceste;
Conta o que podias ter sido se viver fosse mesmo o que tivesses escolhido;
Conta quem serias tu agora,
se em vez de inútil, se em vez de uma vida fútil,
Tivesses, por esta vida fora,
Escolhido ter propósito, e não essa tua vida-depósito
E conta! Conta quantas vezes podias ter sido feliz
A seres qualquer coisa, tudo, menos esse infeliz
Sim! Tu e essa tua mania
De viver uma patológica fobia,
Onde o mundo todo te deve
Onde o mundo inteiro é peso e só tu és leve
Onde é tudo pequenino e tu tão gigante...
Mas, mal de ti, tão ignorante,
Que fazes de tudo para não te lembrares
Que vives a vida no pior dos lugares:
Um lugar escuro, bafiento e mesquinho,
Onde ninguém te quer e tu estás sempre sozinho.
E até esta coisa maravilhosa que é viver
Te passa ao lado, sem te querer conhecer.
É que, sabes? Viver não é para quem é fraco!
Viver é muito mais do que o teu whisky e uns quilos de tabaco.
Vá Anónimo,
Agora que a vida se te acaba,
E que à morte ninguém aldraba,
Faz as contas! Vá! Faz as contas!
E diz:
Tens as tuas malas vazias prontas?